Eu Me Transformo em Outras

  1. Intro - Hermínio Bello de Carvalho
  2. Quem Canta Seus Males Espanta
  3. Nova Ilusão
  4. Quando Esse Nego Chega
  5. Nega Manhosa
  6. Sábado em Copacabana
  7. Janelas Abertas
  8. Doce de Coco
  9. Leonor
  10. Disfarça e Chora
  11. Linda Flor (Ai, Yoyô)
  12. Meu Rádio e Meu Mulato
  13. Renúncia
  14. Dream a Little Dream of Me
  15. Deusa da Minha Rua
  16. Eu Não Sou Daqui
  17. Capitu
  18. O Habitat da Felicidade / Presente

Músicos:
Gabriel Grossi, gaita
Hamilton de Holanda, bandolim de 10 cordas
Marcio Bahia, bateria e percussão
Marco Pereira, violão de 8 cordas

Direção musical:
Bia Paes Leme

DVD dirigido por Oscar Rodrigues Alves

produzido por Academia de Filmes

Diretor de Arte:
Claudio Amaral Peixoto
diretor de fotografia:
Adriano Goldman
colorista:
Sérgio Pasqualino
direção de imagens:
Oscar Rodrigues Alves e
Daniel dos Santos
corte ao vivo:
Daniel dos Santos
edição:
Oscar Rodrigues Alves

produtores executivos (Academia de Filmes):
Paulo Roberto Schmidt e
Antônio Carlos Accioly
produção executiva (Duncan Discos):
Denise Costa

assistente de direção:
Pietro Sargentelli
diretor de produção:
Guilherme Bouças

produção (Academia):
Bianca Moreira Marques
Pedro Ferreira de Carvalho e
Giovanna Silva Albuquerque
assistentes de produção (Academia):
Fátima Carla Barros de Carvalho e
Jorge Luis da Silva
assistentes de produção(Duncan Discos):
Thiago Pinto da Silva e
Flavia Belchior
assistente de arte:
Cyane Ventura
contra-regra:
Josenildo Amarantes Pereira

captação de imagens:
unidade móvel Jotaeme
diretor executivo:
Milton Urcioli Jr.
coordenador:
William Ricardo
técnico:
Alexandre Nóbrega Sobrinho
operador de video:
Carlos da Silva
operador de VT:
Sidney Bonfim da Luz
operadores de câmera:
Wladimir Miranda, Luis Carlos Cury, Carlos Travaglia Filho, Jorge Luis Maya Silva e Adriano Goldman

operador de cam-remote:
Silvano Guglielmoni
assistentes de câmera:
Luis Carlos Pereira, José Pereira da Silva, José Iram Fabrício, Tiago Franco da Silva e Carlos Alberto Pereira Carvalho

eletricista-chefe:
Marcelo Pinto
eletricistas:
Warley Miquéias de Jesus Lino, Hilton Maria Maia Alves e Nilton da Silva

maquinista-chefe:
Vitor Cezar Ferreira Reis
maquinistas:
Gilberto Anísio Madureira, Carlos Roberto de Sousa e Valentim Lucas Cordeiro

On Projeções
diretor executivo:
Carlos Murta
operadores:
William da Silva Gama e
Wagner Verdatas Marques

operadores de VT:
Henrik Soltys e Tais Orsioli
assistente de finalização:
Carime Franco
coordenador de finalização:
Francisco S. Ruiz

artista de smoke:
Renato Jabuca, para Academia de Filmes

vinhetas Super-8 filmadas
por Francisco e Oscar Rodrigues Alves
design:
Luciano Cury
smoke:
Renato Jabuca
agradecimentos a Dr.DD e mcca

áudio gravado por Guilherme Reis e
Fábio Henriques na unidade móvel Mac Áudio
técnico de monitor:
Marco Máximo
mixado por Fábio Henriques e
Bia Paes Leme no Discover Estúdio, RJ
edição e sincronismo:
Jade Pereira
masterizado por Carlos Freitas, para Classic Master, SP
áudio produzido por Bia Paes Leme

autoração:
Estúdio Mega
coordenação geral:
Patrícia Sacom
coordenação de produção:
Chaban Rolim
assistentes de produção:
Zenilda Miranda e Selma de Melo
autoração:
Marcos P. Borrelli e Ariel Bertelo
controle de qualidade:
André Blumenschein
codificação Dolby Digital:
Pedro Lima e Paulo Gama
versões inglês e espanhol:
Málaga Ltda.

design gráfico:
Mecano Estúdio
Silvio Gurgel e Henrique Saponi Jr.

preparação vocal:
Ângela de Castro

beauty e styling:
Silvana Gurgel
Zélia Duncan veste Ronaldo Fraga

agradecimentos especiais:
Hermínio Bello de Carvalho, Kátia Mota, Cristina Vilhena, Joyce da Silva, Adriana Behar, Jamari França, Ronaldo Villas, Denise Costa, Patrícia Albuquerque, turma do CCC, Fábio Henriques, Guilherme Reis, CET RIO, Real Gabinete Portuguez de Leitura e, finalmente, a Oscar Rodrigues Alves e sua equipe, por tudo.
ZD

direção artística: Zélia Duncan

Zélia Duncan

Um show que virou disco. Foi gravado "ao vivo", mas não se trata  de um "disco ao vivo" como estamos  acostumados a ver.

Complicado? Não, simples como água pura, simples como antigamente.  Gravamos juntos, todos no mesmo momento, dentro de um estúdio. Daí a  enorme importância de já conhecermos tanto essas  músicas, a ponto de podermos "brincar" com elas, buscando levar para as gravações aquele espírito das apresentações absolutamente prazerosas que fizemos no Centro Cultural Carioca, no Rio, e depois nos Sescs Santo André e Vila Mariana, em São Paulo, todos com suas lotações esgotadas.

No repertório, minha memória recente e remota, o desejo de homenagear vozes e autores que me fizeram tomar a decisão de também dedicar minha vida à música. Minha Eliseth Cardoso, Araci de Almeida, Silvia Telles, Ná Ozetti, Herivelto Martins, Nelson Gonçalves, Wilson Batista, Hermínio Bello de Carvalho, Tom Zé, Itamar Assumpção, Tom e Vinicius, Haroldo Barbosa, Ella Fitzgerald, Luis Tatit, Cartola, Lula Queiroga, Jacob, Wisnik, Claudionor Cruz, Pedro Caetano e mais alguns, reverberam na direção musical e produção caprichadíssima de Bia Paes Leme, e no virtuosismo e sensibilidade de Hamilton de Holanda (bandolim de 10 cordas), Marco Pereira (violão de 8 cordas), Márcio Bahia (bateria e percussão) e Gabriel Grossi (gaita).

Enfim, minha vida anda mais sortida do que nunca, como eu sempre quis. Acho que se trata de uma liberdade conquistada. Me sinto tranquila e segura, mesmo em tempos  como os nossos, porque abri várias frentes de prazer dentro da música. Continuo compondo e ouvindo meus folks, rocks, blacks, pops, que eu adoro. Sortimento ainda na estrada, show com Naná Vasconcelos pra lançar o disco dele e do Itamar (que honra!), parcerias com Mart'nália, Lenine, Pedro Luis, Christiaan, Sortimento Vivo lançado em Portugal agora em janeiro, muitos  planos e esse projeto, que estreou em julho do ano passado, uma quarta-feira, na Praça Tiradentes, partindo do simples desejo de fazer música com pessoas diferentes, e me fez tomar coragem e abrir meu próprio selo, Duncan Discos, num acordo com a Universal, que fabrica e distribui, independentemente do meu contrato com eles como artista, que ainda prevê dois álbums de carreira. Um risco? Claro que sim! Coragem redobrada, apoio de pessoas fundamentais e mãos à obra.

"EU ME TRANSFORMO EM OUTRAS" traz o que mais adoro ser: intérprete, cantora, canária, como queiram, aquela que abre a boca e canta. Algumas canções me emocionam especialmente, como Janelas Abertas, outras me fazem jurar que sou do século retrasado, como Renúncia e Meu Rádio e Meu Mulato, e outras ainda, me ajudam a confirmar o meu tempo, como Capitu, Tô e Presente. Me sinto tantas quando sou esta, que só espero poder dividir tamanha intensidade com quem, quiser me ouvir.

Hermínio Bello de Carvalho

A multiplicidade de desenhos simétricos oferecida pelo cilindro opaco quando a gente o assesta num dos olhos, isso me faz lembrar um pouco a Zélia, e essa imagem me remete, de imediato, ao adjetivo camaleônico, aplicado por vezes deforma pejorativa. Complicado, não? Vamos descomplicar, voltando para os quintais da infância e, daqui a pouco, falando de Dame Aracy d'Almeida e da Divina Elizeth.

Embora o dicionário nos impinja a grafia calidoscópio, prefiro chamar de caleidoscópio aquele tubinho de paredes escuras, com um monte de espelhinhos que remultiplicam pequenos objetos coloridos, nunca repetindo a mesma forma quando o giramos. Quanto ao camaleão, que tanto pode ser uma iguana ou um daqueles calangos-sáurios pré-históricos reconstituídos cinematograficamente por Spielberg, significa também, olhem só!, pessoa de caráter duvidoso, que muda deopinião ou atitude conforme lhe for conveniente. Zélia,expliquemos logo, tem caráter de firmeza incontestável. Mas é chegada a um risco. Gravar um disco como esse, fora dos padrões assépticos oferecidos pelas tecnologias pavorosas que afinam vozes, ajustam acordes, consertam dicção e estendem glissandos?, nem pensar! Com ela é assim: todo mundo junto no mesmo trapézio. Meio Elizeth: quero meus músicos tocando junto de mim, impunha a Divina, quase possessivamente.

Vamos descomplicar, passando logo para Aracy e Elizeth? Araca (assim como a quase totalidade das cantoras surgidas a partir de Carmem Miranda) outra coisa não fez a não ser olhar-se no espelho que refletia aquela lusitana maravilhosa, que desembarcou no samba já de bahiana e turbante ornado de frutas, esbanjando malícia e personalidade e revirando os olhinhos pro Caymmi. Mas, esclareçamos, enxanguando quase no mesmo tanque da grande Aracy Cortes. E Elizeth? Bem, Elizeth me confidenciou, com aquele sorriso lindo, que começou imitando não uma, porém três cantoras de uma só vez: assestou seu caleidoscópio em Odete Amaral, Aracy de Almeida e Marilia Batista < todas, aliás, carminianas em início de carreira.

Vamos, pois, à Zélia Duncan. Falando das cantoras de timbres graves e espessos, ela é igual a Nora Ney: já chegou carregando seu estilo. E, camaleônica no bom sentido, visita agora o repertório de quase todas aquelas grandes cantoras já citadas, mas olhando nos espelhinhos do retrovisor caleidoscópico que ela mesma inventou, olhando para si mesma, sua forte personalidade reverenciando os desenhos simétricos oferecidos por aquelas intérpretes que ela tanto admira. Mas se cantasse tudo isso sem inteligência, nada acrescentaria. E como inteligência guardo sempre Nara Leão como parâmetro absoluto na escolha do repertório < e este disco de agora me faz lembrar os tempos em que todos se perguntavam quando sairia um novo disco de Nara.

Zélia, com sua voz de tonalidade belíssima, costuma viajar, sem atitudes preconceituosas, por muitos gêneros, saltando com naturalidade de uma barca de Niteroi (onde nasceu) para uma barcaça do Mississipi, onde estão os cantores negros que tanto a fascinam. (Às vezes, a meia naucatarineta parece transpor as colunas desenhadas por Niemeyer para Brasilia, onde Zélia se criou). Ela guarda a inteligência de confiar essa travessia a bons timoneiros e hábeis marujos: Bia Paes Leme está ao seu lado, com sua musicalidade espantosa, guiando o barco. A marujada é de primeira linha: Marco Pereira (violão 8 cordas), Hamilton de Holanda (bandolim 10 cordas), Marcio Bahia (bateria e percussão) e o gaitista Gabriel Grossi. É uma visão contemporânea de visceral brasilidade, que nos remete a um grande telão. Um filme-disco, mais ou menos assim, mesclando a velha Atlântida com Hollywood, passando pela Cinecittá, meio Fellini-Nino Rotta. Resumindo: Zélia entra, definitivamente, para o panteão das maiores cantoras brasileiras de todos os tempos com este disco maravillhoso e meio retro-transgressor, se bem me entendem. Ela se transforma em todas aquelas iguanas caleidoscópias já citadas, mas continuando ela mesma em essência, forma e risco.